sábado, 21 de julho de 2012

Obrigado, Diogo.


    Dias atrás um amigo me perguntou se eu continuava escrevendo. Perguntou também qual livro eu estava lendo e, após uma resposta negativa, me perguntou qual livro eu queria ler. Perguntas relativamente bobas, como talvez este texto também o seja, mas que me fizeram pensar por três dias nos rumos que eu tava dando à minha vida. Acho que entrei numa pequena reflexão retrospectiva de todos os sonhos que eu tinha e qual deles eu ainda buscava realizar. Descobri que eu não sonhava mais.
       Pensei em quando foi a última vez que parei para escutar as músicas que eu escutava e gostava. Parei pra pensar nos livros que eu lia e me deliciava. Parei pra pensar nas amizades que se distanciaram por falta de tempo e pelas distâncias quase que infindáveis. Parei pra pensar nos “bom dia” quase que sussurrados e pela vida de outono que Veríssimo um dia me disse em conversas lidas nas madrugadas regadas a vinhos e lombras. Descobri que eu não escutava mais Gal Costa.
     Minha alma tinha entrado em eutanásia sem que eu percebesse. Meu corpo, esmagado pelo cansaço diário, entrava numa rotina sufocante e desestimulante. O trabalho e a vida, se é que posso dizer adulta, é chata da maneira que eu a estou vivendo. O dinheiro, ou melhor, a falta dele, por mais que o trabalho seja perverso, tinha passado a ser uma busca frustrante. Logo eu que queria morar numa “casinha branca de varanda”. Me fiz perguntas para as quais, em tempos passados, tinham uma resposta decidida e apaixonada e que agora já não as reconhecia mais. 
     Percebi por outro lado que eu tenho um amor. Eu tenho uma família. Eu tenho amigos sinceros e em maior número os não sinceros, mas até que me divirto com eles também. Tenho meu aquário e minha TV. Tenho meu isqueiro e minha garrafa de cachaça lilás. Me propus novos desafios. Me desafiei a voltar sonhar. Descobri que os sonhos só são sonhados quando acreditamos que os possamos realizar. Que gosto da vida que eu, mais uma vez, quero viver. Voltei a ler. Voltei a escrever. Voltei a escutar Gal. 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O meu (teu) desejo

        Imaginei você comigo desde a primeira vez que te observei descendo os três ou quatro degraus daquele ônibus de um tempo distante. Tempo errado, local inadequado, vontades iguais. O mesmo tempo que passou para ambos. As vidas distantes tomaram caminhos iguais e ausentes. As indiferentes investidas foram em vão. Nada mais era conversado além de um “Eu estou bem, também”. 
                O barzinho pretensioso de uma sábado à noite depois de uma sexta feira de boemias e nenhuma expectativa boa nos deixava mais próximos. Os cigarros constantes me tiravam toda apreensão depositada naquela noite. Minha boca, seca das conversas inconseqüentes e tímidas a fim de romper a barreira imposta pela timidez de ambas as partes, desejava os teus lábios embriagados que em mim despertavam os desejos mais carinhosos e descarados. Naquela situação me questionava por diversas vezes, como tomar a iniciativa e te trazer, enfim, para a minha vida. Te desejava como há tempos não desejava outra pessoa.
                 As idas ao banheiro eram disfarces idiotas para olhar o meu rosto no espelho e tentar me convencer que eu era capaz de te dizer duas ou três coisinhas bonitinhas que insistiam em ficar engasgadas ao retornar àquela mesa de um amarelo tão bonito. Elas, as palavras bonitinhas, vinham à minha mente enquanto meu sangue percorria o meu corpo numa velocidade tão mais rápida que o normal, mas minha boca não obedecia nem respeitava. Olhava os teus olhos bem desenhados na tentativa e na esperança de perceber o que acontecia comigo. Em vão. Teu olhar, ainda mais apreensivo que o meu, era displicente. Em poucos momentos nos olhávamos fixamente, para tanto, usávamos a desculpa descarada de prestar atenção no que o outro dizia.
                O jogo de olhares, toques pouco abusados e risos diversos deixavam o clima angustiante e os cigarros em minha mão cada vez mais constantes. O aviso de que aquele bar estava pra fechar, como nas mais melancólicas músicas de Bethânia, anunciava o fim do tempo para possíveis tentativas de te levar pra minha cama ainda aquela noite.
                 Desejava teu corpo, teu sexo e teu sorriso como se as pessoas em volta não mais existissem, como se aquele local fosse a minha sala de jantar na madrugada de uma sexta-feira à noite. Apenas nós, os dois.
                A proposta inocente de acabarmos a noite em minha casa se confundia com um acordo tácito entre os nossos desejos. Em casa, o som da televisão nos calava. Poucas palavras eram ditas e muitas outras engolidas. O teu anuncio de partida me veio com uma derrota das mais amargas. Escrever com as mais desenhadas letras que aquela noite não seríamos um do outro.
                Degraus, parentes distantes dos que te trouxeram pra mim um dia, te levavam de mim sem deixar rastros de volta. Te via saindo de meus planos e já imaginava o arrependimento de um fim de madrugada por não ter te pegado pelo braço e dizer olhando em teu rosto tudo que desejei durante toda a noite. Os meus planos frustrados de uma noite quase fria. Abrir o último dos portões de minha casa para anunciar a tua partida não era exatamente a última cena que queria guardar daquela noite. Num ato impensado e desesperado, contido e lúdico, segurei em teu braço em busca de uma reação qualquer. Olhou-me nos olhos como quem já esperava por aquilo há tempos. Desculpas esfarrapadas ao pé do ouvido para, então, encostar os meus lábios aos teus e te ter como havia desejado e planejado durante toda aquela noite de vontades, cigarros e planos. Um infinito de desejo num turbilhão de tempos e coisas acontecidas que não me permitia deixar-te escapar dos meus braços. Era como se todo o tempo passado daquela noite tivesse sido uma preparação masoquista para o esplendor do desejo realizado. As palavras já não mais existiam, apenas toques, corpos, desejos, planos e saudade ao te ver partir.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Minha pequena

A vontade do abraço se faz presente em cada falta de abraço. A mão enrolado o cabelo desperta a vontade do cafuné de fim de tarde. Mãos pequenas, finas, frias. Olhos fundos das insônias sonolentas. Lágrimas sujas dos outros amores que insistes em não esquecer.  Deita-te em meu colo. Me deixa escorregar meus dedos por entre teus cabelos lisos e te ouvir reclamar do cheiro dos cigarros ansiosos que tornavam menos angustiantes a tua ausência.
                Quero te fazer sorrir mais uma vez de minhas histórias quase reais que mais pareciam piadas. Te ver implorando aos prantos pra parar de falar, pois a tua barriga doía de tanto rir. Te fazer cócegas até amanhecer e dormir quando já estava morto de cansaço. Eu olhava teu rosto de menina de louça e sabia que em pouco tempo essa distância que há hoje se faria presente por longo tempo. Estava certo.
             Foi bom ouvir tua voz em minha casa. Saber que mesmo com informações totalmente contrárias nos encontramos no mesmo lugar. Tua “vozinha” chata entupiu de alegria as artérias de meu magro corpo. Saudade dessa pequena. Saudade de minha pequena.