segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O fim do "a gente"

Olhava os teus olhos vermelhos e lacrimejantes buscando um lugar qualquer, evitando pensar no momento. Eles eram sinceros, grandes, me davam medo. Eu sabia o que acontecia. Não acreditava, mas sabia. Passava minha mão, trêmula, antes descarada, sobre tua perna e desejava toda a sorte do mundo pra nós dois, precisaríamos.
Era a hora da despedida. Ficávamos por ali. O “a gente” passava a não existir mais. O “eu” e o “você” entravam, naquele momento, em nossas conversas. Corroíam e deixavam menos bonita e mais fria cada frase que saia de nossa boca em direção ao outro. Seríamos amigos, agora? Não sei quando, ou se vou me acostumar a te chamar pelo nome. Tínhamos nossos próprios apelidos já gravados em cada inicio ou término de frases.
O abraço frouxo, aquele último abraço, me abria os olhos pro quanto difícil seriam os próximos dias. Chegar em casa. Olhar minha cama. Dormir nela. Ela agora está maior, mais fria e menos divertida. Virar e rolar de um lado para o outro não parece diminuí-la ou deixá-la mais minha. Mas o “a gente” não existe mais e terei que me acostumar com o “eu”.
Encontro nossos amigos na rua. Me perguntam por você. Perguntam por nós dois (risos sem graça). A resposta parece causar grande surpresa, mas não apenas neles. Eu também custo a acreditar. Ameaço pegar o telefone. Ligar pra você. Pedir pra voltarmos. Mas não, já não somos mais os mesmos. Já não damos mais certo.
Não pensa que tudo foi ilusão, mas agora vai. O “a gente” já não existe mais. Você vai se sair bem. Também tentarei ficar bem (mais risos sem graça).

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