segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"Uma balada pra gente dançar..."

Atrasados. Deslumbrados. Ainda meio eufóricos dos cinco minutos quase corridos do táxi até o bloco. A música dava para ouvir de longe. O som da guitarra e as mãos dos foliões balançando de um lado para o outro faziam o coração bater ainda mais forte e os pelos de todo o corpo arrepiarem. Era uma mistura de agonia e alegria que tomava conta da minha cabeça e me deixava com vontade de sair correndo e gritando.
Comigo estavam minha irmã e Diego, um amigo, conhecido minutos atrás quando pediu para dividir o táxi com a gente. Ele era gaúcho. Estava sozinho no carnaval de Salvador e no bloco também. Foi nosso convidado e mascote. Era engraçado ver seu rosto deslumbrado ao sorrir para todos os lados num questionamento meio que constante: “Que porra é essa meu irmão?” Ele parecia não acreditar que também fazia parte daquela festa. Que estava no carnaval de Salvador, no Bloco Balada ao som do Jammil. Eu também não acreditava que estava ali. Mais parecia o DVD gravado pela banda no carnaval passado. Olhava em minha volta e via que era verdade. A voz de minha irmã me dizendo “A gente ta aqui!” me fazia perceber que o suor escorria pelo meu rosto e o feijão comido minutos atrás ainda estava quente em minha barriga.
Bebia alguns goles de abaíra, fumava mais um cigarro e pulava. Pulava como há muito tempo não pulava. Cantava. Gritava. Parecia entrar em transe. Os calos nos pés adquiridos nas noites anteriores pareciam não existir mais. As pernas mais pareciam próteses inteligentes que respondiam a impulsos nervosos. Os braços, outrora apertados e sufocados pela multidão que se espremiam em pulos compassados, erguiam-se e pareciam pedir para os céus que aquele momento fosse eterno. Que o carnaval não terminasse na quarta-feira de cinzas e aquele bloco não acabasse nas “gordinhas de Ondina”.
Em meio a tantas músicas e empurrões encontrava o rosto de minha irmã molhado por lágrimas e suor. O abraço posterior também me fez chorar ao saber que aquele sonho de muitos anos assistindo Band Folia estava se realizando. Os muitos “Eu ainda estarei lá!” agora já não faziam mais sentido. Eu estava lá. Eu estava no carnaval de Salvador no bloco do Jammil.
A garganta, já quase inflamada de tanta chuva e de tantos gritos, cantava todas as músicas e puxava todo o ar na tentativa de sufocar mais uma lágrima que queria escorrer. Em vão. O aperto, cotoveladas, empurrões de todos os lados e até uma lata de cerveja na testa não eram motivos de nervosismo ou arrependimento. Pelo contrário, faziam parte daquela folia e até acho que sem eles não teriam tanta graça, menos a lata de cerveja na testa, essa doeu bastante e até deixou um galo. Mas não queria saber. Eu estava ali. Eu estava feliz. Pensava na minha mãe, na minha sobrinha, queria que todas elas estivessem comigo ali, compartilhando aquela alegria. Que besteira, elas me tirariam dalí debaixo de tapas. Minha mãe acha que carnaval é festa do diabo (risos).
O tempo ia passando, a cachaça secando, o bloco acabando. Não me lembro de muita coisa que aconteceu. Devo mesmo ter entrado em transe. Apenas flashes me veem à mente. Consigo lembrar de uma certa figura que sempre encontrava exatamente ao lado do trio. Era uma mulher de, mais ou menos, 30 anos, meio gordinha, completamente bêbada. Ela era de Maceió e tinha se perdido dos amigos. Engana-se quem pensa que ela estava preocupada. Junto comigo, pulava e cantava desesperadamente aquelas músicas que demoraram a sair de minha cabeça nos próximos dias. Mas ela se perdeu na multidão, assim como o gaúcho que há muito já não via.
Tuca, o vocalista da banda, anunciava o fim do bloco e cantava uma música lenta (Agora que o verão passou/ Agora que o céu já mudou de cor/ Agora que o carnaval terminou...). Aos poucos ia sentindo minhas pernas e pés. Também sentia um certo incomodo de um dedo cortado em dois lugares e de uma canela sangrando. Não deu tempo. Tudo isso foi esquecido nos segundos posteriores quando o mesmo Tuca desceu no elevador lateral de seu trio e cantou a última canção daquela noite. O aperto mais uma vez se fez presente e o cadaço de meu tênis desamarrado e embaixo de tantos outros tênis me deixava preso ao chão. Pouco tempo. Empurrei o cadaço tênis adentro e pulei mais uma vez, cheguei a tocar na mão de Tuca quando ele deu tchau. “Tchau, I have to go now!”

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